Foto: Albenísio Fonseca
Duas trilhas, a do Pau Brasil e dos Oitis podem ser visitadas, há outras com acesso restrito
ALBENÍSIO FONSECA
Sucupiras, oitis, andirobas, sumaúmas, visgueiros centenários e mesmo espécimes ameaçadas de extinção como o Jacarandá e o Pau Brasil são cultivadas em 17 hectares do Jardim Botânico de Salvador, no bairro de São Marcos. O equipamento ambiental é pouco conhecido da população e se encontra em situação tão delicada quanto as espécies ameaçadas. Os convênios para pesquisas científicas com a UFBA e a Uneb, já há alguns anos, deixaram de ser renovados.
Conforme verificado em outubro de 2016, há falta de vigilantes, porteiros e de prepostos da Guarda Municipal; de pessoal de campo e sequer um botânico consta na equipe de 15 funcionários e quatro estagiários. Existem apenas dois técnicos deslocados para a função de guias. Os vigilantes noturnos também são improvisados entre os agentes operacionais, em grave demonstração de pouco cuidado da gestão ambiental com aquele equipamento. A vulnerabilidade do Jardim Botânico sinaliza uma flagrante contradição com os significativos investimentos de revitalização destinados ao Parque da Cidade, no Itaigara, devolvido recentemente à população.
O Jardim Botânico soteropolitano foi inaugurado em 2004 durante a gestão Antonio Imbassahy. Quanto à biodiversidade, a área dispõe da maior quantidade de espécies vegetais remanescentes da Mata Atlântica na Bahia, com 1.200 espécies catalogadas, segundo os técnicos Carlos Henrique, que é engenheiro Agrônomo e Márcio Pinheiro, professor licenciado de Ciências Agrícolas. “Duas nascentes que brotam aqui na área e alimentavam o Rio Pituaçu foram represadas durante a construção da Avenida Gal Costa e acabaram convertidas em charcos”, revelaram.
O herbário – ou museu de plantas – existente no local é mantido pelo IBGE. Dispõe de 60 mil plantas desidratadas. O espaço étnico-botânico identifica e preserva 45 espécies de plantas nativas da Mata Atlântica, utilizadas para chás, banhos medicinais e nos rituais das religiões de matriz africana. Há, ainda, um pequeno orquidário. O Jardim botânico recebe, anualmente, as visitas de cerca de 1.500 estudantes das redes municipal e particular, conforme dados do ano passado, além de botânicos estrangeiros, turistas, comunidades do entorno, representantes de terreiros de candomblé, idosos, deficientes físicos e mentais. Não é permitido piqueniques nem atividades que provoquem impacto no meio ambiente.
O equipamento não funciona nos finais de semana e feriados. O site na Internet está desativado. O portão de acesso é mantido fechado. A alegação é de que há ameaça de vândalos e usuários de drogas. As visitas são bastante solicitadas, principalmente nesse período da Primavera, mas agendadas apenas para pequenas turmas, no caso das escolas, e somente uma turma para cada turno. Muitas não conseguem confirmar o agendamento pela carência de guias no local. Ontem, a Escola Municipal de Pau da Lima estava presente no espaço com 16 alunos do Fundamental 1. Eles demonstravam dificuldade em relatar o que apreenderam durante a visita, a revelar pouca atenção durante a aula expositiva, o que foi considerado “uma coisa natural”, conforme uma das professoras que os acompanhava. Sabiam apenas repetir a “presença do Pau Brasil”.
Verdadeira ilha de remanescentes da Mata Atlântica
Área de preservação, manutenção e contato com a natureza, o Jardim Botânico dispõe de três trilhas, com cerca de um quilômetro cada, embora apenas duas – as do Pau Brasil e dos Oitis – sejam disponibilizadas para o conhecimento dos estudantes e outros visitantes. A terceira, do Carrapateiro é mais destinada a pesquisadores. Espaço aberto para a pesquisa e parceria com instituições, o Jardim Botânico baiano abriga fauna com espécies como cobras, ouriço-cacheiro, iguanas, micos, teiús, raposas, corujas e inúmeras outras aves. As sementes de angirobas – uma espécie amazônica – recolhidas sobre o solo, conforme os técnicos são bastante utilizadas na fabricação de repelentes de insetos e para diversos tipos de cosméticos.
Verdadeira ilha de remanescentes da Mata Atlântica, o equipamento foi contemplado há alguns anos com a descoberta de uma espécie de pinha no local que veio a ser identificada por um biólogo austríaco, especialista em botânica, que a denominou cientificamente de “annona soteropolitana”. Segundo os técnicos Carlos Henrique e Márcio Pinheiro, “temos enfrentado dificuldades até mesmo para mobilizar pessoal da Seman-Secretaria Municipal de Manutenção nos casos de retiradas de árvores mortas, galhos despencados ou acometidos por ataque de cupins e outras pragas. Conforme Henrique, numa hipótese de retirada da floresta que compõe o Jardim Botânico, por alguma ameaça maior, “o solo estaria inevitavelmente ameaçado de desertificação”.